quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Todo castigo pra corno é (era) pouco

Não adianta qual o caminho trilhado por uma conversa de bar, ela inexoravelmente porá seus pezinhos nesse pântano da tristeza e amargura, domínios da traição. O assunto sempre foi um dos preferidos de uma mesa e isso não é nem de longe novidade. O que me faz debruçar sobre a matéria em questão é a nova abordagem que lhe conferem atualmente.

Antigamente uma gaiazinha das menores, um mínimo biliro de vaca, era motivo para um banho de sangue, corno raivoso e amargurado pro resto da vida. Eu mesmo, diante de um infortúnio, cheguei a dizer: “Pisei em rastro de corno! Ou melhor, levei gaia e pisei no meu próprio rastro!” Depois, com calma, passei a analisar o assunto e aderi à turma dos novos valores. Pois é, soa estranho aos meus ouvidos, afinal, na minha humilde concepção, quem comete um ato vil não pode manchar qualquer reputação que não a sua própria. O pobre do corno só recebeu um presente, não há razão para vergonha nisso.

O grande guru do cotidiano, nosso brilhante conterrâneo Xico Sá diz que somente uma gaia é capaz de humanizar um canalha... De fato, já conheci calhorda daqueles que praticamente fazia um colar das calcinhas que colecionava, inchava o peito de impáfia e arrotava seus feitos até que eles ecoassem e retornassem aos seus ouvidos. Bem, o fim dessa história não poderia ter sido outro... Certo dia foi presenteado pela esposa e seu leiteiro. Ganhou de vale-brinde uma passagem para a Cornualha... ficou tão mais humilde, poverino!

Gerônimo, um comerciante e radialista lá das bandas de Cavaleiro, certa vez me disse: “Meu filho, se a mulher lhe trair um dia é porque deixou faltar amor, seu beijo não tem mais sabor e você não é homem pra ela”. Depois de ouvir sentença tão sábia, o Mago, meu irmão emendou sem deixar a bola cair: “O cara só é um homem de verdade depois de ter levado uma gaia, por mais miúda que seja”. Levar gaia agora é moda, Falcão e o Rei Rossi profetizam isso todo santo dia. Afinal, um homem sem chifre é um animal indefeso, não é verdade?

O supracitado Mago, em discussão fervorosa acerca do tema com o amigo Florinda, chegou a uma conclusão brilhante: “Ninguém leva gaia de uma comerciante do amor". Bem, nisso todos concordamos, ainda não soube de alguém que levou gaia de tal profissional. Iluminado pela cerveja, continuou o Mago a dizer: “A mulher quando pensa em botar gaia no cara, só esse pensamento é capaz de desvirtuá-la e nesse momento ela vira quenga”. A conclusão foi digna de um brinde. A vergonha não é ser corno, pois isso não existe, mas em continuar a namorar uma quenga.