quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Crônica Anacrônica.

Diz-se por aí que o tempo é um medonho cão raivoso, Cérbero, que nos arrasta insofismavelmente pela bainha de nossas calças até o vazio do esquecimento. Areia da ampulheta que nos escapa por entre os dedos e nos traga, movediça, até nos enterrar em sepulturas. O velho decrépito e colossal Kronos com seu belo Tissot, esperando os filhos nascerem para então devorá-los, contando os segundos, tic-tac, com direito à cuco despertador e outras cositas mas.

Eis que a civilização - sioux ou turca, ocidental ou oriental, moderna ou antiga - precisa dessa invenção. A medida varia... Segundos, minutos, dias, luas... E por aí vai. O fato é que independente da métrica usada, a sabida invenção nos é, se não indispensável, no mínimo útil. Não tem outro jeito de dizer isso, nada mais precioso que o tempo em tempos como esse, certo?

Tende-se a ver bidimensionalmente, digo, tempo x espaço. É a velha história do: "Era uma vez, há muito tempo atrás, um lugar chamado..."Não entro na questão espacial agora, deixo a oportunidade para, talvez, tratar do assunto com mais minúcia e zelo posteriormente, se tiver tempo, é claro.

Enfim, que é tempo senão a régua que inventamos para medir nossa história? Já percebeu que o sol está lá em cima desde sempre e à ele não interessa o seu horário de almoço, ou mesmo quanto tempo faz desde que a maldita Bastilha foi tomada? Que determinadas situações passam voando e outras se arrastam, para depois de uma eternidade, se consumarem, devorando apenas alguns segundos? Que dizer daquela moça bonita que te fita os olhos, ainda que de relance? Certamente perdurou mais na memória que todo um expediente teimoso e infindável de labuta enfadonha.

Certamente, pelo menos para mim, este bacana que vos escreve, é impossível imaginar a desconstrução do tempo na vida coletiva, ao passo que no âmbito individual é só uma questão de costume. É aí que está o curinga do baralho, neguinho, believe me.

Você deve estar achando que perdeu tempo lendo a ladainha de mais um cabeção pouco original que se julga o doutor da Sorbonne, fazendo resenha barata sobre o tema mais batido no mundo, carpe diem... Bem, isso aqui não é nenhuma apologia à irresponsabilidade desesperada e desenfreada. O tempo é uma invenção útil que deveria nos servir, e não nos escravizar. Devora o tempo ou sê devorado por ele. A escolha é sua. Particularmente, prefiro saborear meus momentos.