segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Janela da alma.


Uma brisa gelada tomou a sala de estar, entrando pela veneziana e percorrendo logo toda a casa. Da janela, um menino magrinho olhava as outras crianças brincando na neve. Revelava-se em seus olhos um misto de sentimentos, um pouco de melancolia, de inveja por não estar naquela vastidão branca com os seus vizinhos. Aquele vento o colocava a tiritar.

Então ele decidiu trocar de roupa e foi se agasalhar. Ao abrir o guarda-roupa, viu lindas bermudas multicoloridas, com estampas de florais, camisas com temas alegres, cores vibrantes, roupas com as quais ele havia brincado a primavera e o verão inteiro naquele quintal que antes era verde e que agora o inverno tingia com alvura. Mas não tinha nenhum cachecol, por mais cinzento que fosse. Nada de luvas, botas, casacos, lã ou couro. E de repente ele percebeu que havia guardado aquelas roupas por tempo demais, elas eram bonitas, mas já não lhe serviam. Fora preciso um duro inverno chegar para ele se aperceber disso .

Mas, fosse como fosse, o menino queria brincar, e aquela sala monótona já havia o aborrecido. Então, vestiu um casaco da mãe, sem se importar com o fato dele ser cor de rosa, calçou um par de coturnos de pelica do pai, sem reparar que eles eram sete números acima do tamanho do seu pé, colocou uma calça velha apertada e desbotada. Limpou os pés no capacho, mergulhou no alvo inverno e fechou atrás de si a porta da entrada da casa, deixando para trás a sala de contemplações monótonas e tristezas aborrecidas.