sábado, 5 de setembro de 2009

Dias...

Nada lhe agradava mais que aquele cenário. O ruído das ondas, o cheiro de maresia, a brisa acariciando suavemente algumas delicadas flores que, ao mais brando dos ventos, concederia suas pétalas, só para enfeitar ainda mais a atmosfera que perfumava.

Ele pensou que havia beleza nos dias azuis de nuvens ausentes, sol reluzente e águas claras, mas nem de longe se equiparava ao charme bucólico dos dias cinzentos, mar revolto e brisa úmida. Hoje era certamente um desses. Dias que não revelam que horas são, nem a estação do ano em que estamos, que nos envolve em nevoeiros, onde se raramente vislumbra além dos horizontes turvos. Dias misteriosos.

Do alto daquela falésia, sentado em um tronco retorcido do que fora em outros tempos um imponente carvalho, ele se atirou em pensamentos. Adorava aqueles dias convidativos, contemplativos, introspectivos. Quase podia sentir no palato o gosto deles. "A despeito da pouca visibilidade, é quando se enxerga melhor, pois aprende-se a confiar mais nos demais sentidos." pensava o rapaz.

Lembrava-se de quando era mais velho, do que lhe fora prometido em dias fulgurantes de verão, da esperança de tudo ser azul, lembrava das perspectivas frustradas, de pássaros cantando sonhos alegremente, onde tudo parece possível, onde tudo parece tão fácil e feliz. A chuva lavou alguns erros dos seus ombros, levou consigo alguns anos que lhe pesavam e semeou novos projetos, dessa vez menos impetuosos.

Não restava mais espaço para ser amargo, mas não podia deixar de sentir a melancolia daqueles dias cinzentos, dias que não revelam que horas são, nem a estação do ano em que estamos, que nos envolve em nevoeiros, onde se raramente vislumbra além dos horizontes turvos. Dias misteriosos.

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